Nos dias 5, 6 e 7 de setembro, em Vilas Boas, Vila Flor, 250 pessoas participaram naquela que foi a quarta edição deste ano do Tua Festival de Percursos Pedestres, um evento que acontece de março a novembro, em cinco fins-de-semana, repartidos por cada um dos concelhos que fazem parte do Vale do Tua: Alijó, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, Murça e Vila Flor.
Mais uma edição que esgota o limite máximo de participantes. “Este é o maior Festival de Percursos Pedestres de Portugal”, diz o diretor do Parque Natural Regional do Vale do Tua (PNRVT), António Luís Marques.
Este evento é promovido pelo PNRVT, com estreita colaboração com os municípios e com a PORTUGALNTN.
“Em todas as edições esgotamos o número de inscrições com muita antecedência e o que notamos é que quem se inscreve, cada vez mais, participa em todas as atividades. Há um verdadeiro acolhimento por parte das comunidades que recebem o evento e um envolvimento genuíno dos visitantes”, refere Domingos Pires da PORTUGALNTN.
“As aldeias ganham vida, enchem-se de pessoas que valorizam os produtos locais, a cultura e as tradições. É este reconhecimento que procuramos”, acrescenta o diretor do PNRVT.
A consistência da procura e da participação torna este Festival único.
Em cada edição o programa ganha novos apontamentos de novidade, tendo em comum a caminhada que acontece sempre no domingo de manhã. No sábado anterior e nalguns casos na sexta, os municípios promovem atividades complementares e que diferenciam cada um dos territórios. Em Vilas Boas, Vila Flor, o programa contou com visitas ao forte património edificado da freguesia, uma feira de produtos locais, música e teatro e até uma experiência de “peregrinação” da aldeia até ao Santuário de Nossa Senhora da Assunção, o maior Santuário Mariano de Trás-os-Montes. A meio da experiência, a habitante local, Lurdes Ala, que publicou um livro com mais de uma centena de lendas e contos da aldeia, contou aos participantes a lenda da Nossa Senhora da Assunção. Diz a lenda que junto da Fonte da Santa, apareceu a Senhora da Assunção a um menino pastor e pediu-lhe para erguer uma capela em sua honra. Deu-lhe uma barra de ferro e pediu-lhe que o atirasse para longe e onde o ferro caísse aí devia ser erguida a capela. “O menino atirou com o ferro e, por milagre, foi cair no cabeço”, contava Lurdes. A população contruiu no local uma capela muito humilde, que era até usada pelos agricultores para guardar o gado. Não satisfeita a Senhora da Assunção apareceu uma segunda vez a uma menina, de seu nome Maria Trigo, e pediu-lhe que avisasse a população de que devia erguer uma Capela nobre. Numa noite muito ventosa a menina, com uma vela acesa, percorreu todas as ruas da aldeia a avisar os moradores e esse foi o segundo milagre, porque apesar do vento a vela nunca se apagou. Lurdes Ala contou outras histórias, sobre a moura encantada, a avareza, o pecado, a absolvição e outros temas que fazem parte das crenças mais antigas, memórias que são também património imaterial e cultural da comunidade local.
“Estas histórias fazem parte da cultura da terra e o Tua Festival de Percursos Pedestres tem também a vontade da partilha, da valorização e promoção da identidade local. Estes ativos, juntamente com o vigor e a biodiversidade natural constroem um produto muito competitivo”, acrescenta o diretor.
No domingo a caminhada de 10 quilómetros PR5 VFL – Trilho do Poço dos Lobos, um trilho que levou os 250 participantes ao topo da Serra de Faro, um miradouro natural diferenciado, que permite ver em 360 graus a marcante paisagem do Tua, até onde a vista alcança. Em dias de algum nevoeiro o topo da serra ultrapassa as nuvens e permite ver um manto branco, quase encantado, como as histórias que por aqui se contam.
Este trilho passa por um lugar conhecido como “o fojo do Lobo”, um espaço onde em tempos idos aqueles animais, agora protegidos, eram apanhados, para salvaguarda do gado dos produtores locais.
A cada edição os participantes do Tua Festival de Percursos Pedestres levam experiências únicas e irrepetíveis, de cultura, sabor e tradição.